De acordo com o estudo “Tendências Globais do Capital Humano 2014”, realizado pela consultoria Deloitte com 2,5 mil líderes de recursos humanos de 94 países, sendo 40 brasileiros, 86% dos líderes de negócios e de RH entrevistados acreditam que não têm um sistema de desenvolvimento de liderança adequado. No Brasil, esse índice sobe: para 98% dos gestores, é preciso melhorar o desenvolvimento de lideranças.
De fato, uma demanda recorrente quando atendemos clientes corporativos é a de coaching voltado ao desenvolvimento das lideranças. Temos visto profissionais competentes que apresentam dificuldades no exercício de sua liderança em um ou mais dos aspectos mais frequentemente demandados dos líderes nas organizações.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, liderança é a posição, função ou caráter de líder – que por sua vez, é a pessoa que tem autoridade e carisma para chefiar, comandar ou orientar outras pessoas.
Muito se fala sobre as características de um bom líder; basta olhar a variedade de matérias e artigos sobre o assunto, e que trazem informações sobre estilos de liderança, desafios e melhores práticas, sobre as características esperadas dos líderes.
Em uma pesquisa não muito extensa, encontrei várias listas de “as 10 principais habilidades de um líder”- com variações de listas para líderes de alta performance, líderes na era digital, líderes no século XXI, líderes da gestão moderna, etc, etc, etc… São tantas características, competências, habilidades listadas que, em um certo momento, ao reunir as listas que encontrei, começou a me parecer que ser líder é algo para super heróis.
São requisitadas habilidades como saber ouvir, saber delegar, assumir responsabilidades, entender de tecnologia, liderar pelo exemplo, reconhecer os feitos dos liderados, engajar, tomar decisões (em outras listas, compartilhar decisões importantes), dar feedback, saber se relacionar, fazer a ponte entre a estratégia corporativa e as ações táticas, manter a equipe bem informada, acreditar na inteligência coletiva, demonstrar confiança, ter visão estratégica, ter humildade, dar poder aos outros, reconhecer seus erros, ter senso de humor, demonstrar compromisso, ser capaz de inspirar, lidar com improviso, manter atitude positiva… e a lista segue!…
Iniciei minha carreira no mundo corporativo aos 19 anos, com 23 anos assumi uma posição de gerência e com 25 eu estava liderando uma equipe. Se eu tivesse tido acesso a uma lista como essa no início da minha vida profissional, é possível que minha primeira reação fosse a de me questionar se seria capaz. Ou então me apavorar com a quantidade de habilidades e competências que eu teria que desenvolver e demonstrar para, quem sabe depois de muitos anos de vida profissional, poder me considerar – e ser considerada – uma boa líder.
Sem dúvida, liderar exige o uso de várias competências. Exige que se entenda o contexto, a situação, a cultura organizacional. Os bons líderes deixam rastros, características identificáveis e percebidas como fundamentais e responsáveis pelo bom desempenho das equipes e dos negócios.
Agora, se para exercer bem a liderança temos que atender à uma relação de itens, por onde começar? Quais itens escolher? Qual deles priorizar?
Há muitos anos atrás escutei de uma pessoa que fazia parte de minha equipe na época algo que, na ocasião, não me pareceu assim tão relevante. No entanto, mesmo que racionalmente eu não compreendesse totalmente o significado do que eu estava ouvindo, intuitivamente acho que percebi uma questão bem importante naquela fala – tanto que nunca mais a esqueci.
Ela me disse assim: “Você é uma boa “chefe” porque você é gente.” Entendi que aquilo era um reconhecimento, mas pensei: “Mas dá pra não ser?”.
Há um instrumento que usamos em coaching chamado Roda da Vida; nele, convidamos o coachee a avaliar sua satisfação em várias áreas da sua vida. Não raro nos deparamos com a surpresa das pessoas ao perceberem ou “lembrarem” que suas vidas são compostas por diversas dimensões, como a social, familiar, profissional, intelectual, lazer, financeira, saúde, entre outras.
Acredito que uma competência fundamental de um líder é perceber que está lidando, primordialmente, com um ser humano, complexo nas suas várias dimensões da vida; e que precisa e merece ser respeitado como tal.
Escolho então um item para encabeçar minha lista de competências essenciais de um líder de sucesso: um bom líder deve tratar cada indivíduo como pessoa que ele é.
Com virtudes e talentos, pontos a desenvolver, inseguranças, com vida fora do trabalho. E tendo esse ponto de partida, precisa ter identificadas suas necessidades individuais de desenvolvimento, de envolvimento, de estímulo ao desafio, de reconhecimento.
Se este item estiver presente, as demais competências se desenvolvem, se aprendem, se aperfeiçoam.
E se a minha lista tiver que se restringir a um único item, vou mais direto ao ponto: trate gente como gente.
Simples assim.
(Renata Guimarães Cintra é Coach, membro do ICF – Intenatinal Coaching Federation e sócia da Korkes & Cintra Coaching)
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