O desafio da conciliação da maternidade com o trabalho é uma questão já conhecida e sempre discutida, quer seja em fóruns, artigos, em conversas sociais, na família. É um tema que “paira no ar”, como parte do universo feminino da atualidade.
Trazendo um pouco de concretude a este tema, um estudo realizado pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas intitulado “Licença Maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, e publicado pelo jornal Nexo, analisou dados do Ministério do Trabalho de 247.455 mulheres, com idade entre 25 e 35 anos, que tiraram licença-maternidade entre 2009 e 2012, e acompanhou seu desempenho no mercado de trabalho até 2016.
O Jornal entrevistou uma das autoras do estudo, Cecília Machado, e trouxe os principais achados e conclusões do estudo. E a que dados e conclusões o estudo chegou?
- Que 50% das mulheres não permanecem no mercado de trabalho após 1 ano da licença maternidade;
- Que a grande parte de quem deixa o trabalho o faz logo após o fim da licença; os registros mostram que parte desse desligamento ocorre por pedido da funcionária e parte por iniciativa da empresa, mas esta segunda opção pode conter casos de acordo entre as partes, em que a empresa demite a funcionária para que esta mantenha seus benefícios;
- Que a maioria dessas mulheres que saem após a licença tem grau de escolaridade menor – o que pode indicar uma renda menor e uma dificuldade financeira em ter alguém, escola, creche, para cuidar do filho;
- Que uma política pública de mais escolas, creches, poderia ajudar na permanência dessas mulheres no mercado de trabalho;
- Que as mulheres precisam de flexibilidade das empresas, para conciliar o trabalho e as demandas de um filho pequeno.
Ou seja, há dados que mostram, em números, o quanto é desafiadora essa conciliação de papéis de mãe e profissional.
Do ponto de vista prático, é preciso ter alguém que cuide dos filhos para a mulher trabalhar, e trabalhar com tranquilidade. Pode ser um parente, uma escola, uma babá ou cuidadora. Ela precisa de uma rede de apoio. E se a mãe não tem recursos ou condições para tal, pode ficar sem opção e ter que deixar o emprego – ao menos o emprego formal.
O estudo não mostra o encaminhamento dessas mulheres que deixam a empresa. Podemos fazer inferências, a partir de situações vistas no cotidiano, de que essas mulheres podem ficar em casa exercendo seu papel de mãe em tempo integral, podem partir para trabalhos informais, trabalhar de forma autônoma ou em tempo parcial.
Bem, se 50% das mulheres deixam o mercado de trabalho após a licença maternidade, outros 50% permanecem.
Permanecem para continuar com seus ganhos, manter seu padrão de vida e proporcionar o que a família precisa. Permanecem porque querem preservar algo de importante que o trabalho lhes proporciona: convivência, aprendizado, satisfação, realização…
Qualquer que seja a motivação, qualquer que seja a situação de trabalho – se emprego formal em tempo integral, se em tempo parcial, se autônomo ou informal - algumas habilidades e competências são exigidas de nós mulheres, para que consigamos lidar com nossos papéis de mãe e profissional. E sem falar nos demais papéis, pois somos também esposas, filhas, amigas…
Nossa, como é que conseguimos?!!
Em coaching, quando falamos em competências, estamos falando da reunião e coordenação de conhecimentos, atitudes e habilidades, que quando colocadas em prática nos permitem desempenhar nossos papéis e lidar com os desafios e experiências da vida de forma mais eficaz. E em nossos processos de coaching executivo e de carreira para mulheres esse conciliar de papéis, desde as motivações até os encaminhamentos práticos, está sempre presente.
Desde o início desse texto falamos em conciliação. E o que isso quer dizer?
Dentre os significados de conciliar que podemos encontrar no dicionário, um particularmente me encantou: pôr ou ficar em paz; tranquilizar (-se).
Em última instância, acredito que esse seja um ponto fundamental para nós, mulheres: quaisquer que sejam as condições, qualquer que seja o sonho, a motivação e mesmo a dificuldade, buscarmos ficar em paz e nos tranquilizarmos com as escolhas feitas, tendo a clareza de que ninguém melhor do que cada uma para saber qual seu desejo, onde quer chegar, o que você precisa fazer e o que é possível naquele momento.
Acredito que esta seja a verdadeira conciliação: a que te permite, genuinamente, estar em paz consigo mesma.
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[Renata Cintra é diretora na SER Desenvolvimento, tem 25 anos de experiência corporativa como executiva, e nos últimos anos vem atuando com desenvolvimento de lideranças e carreira, para indivíduos e organizações.
Vê o trabalho como uma forma de expressão e realização do ser humano, e acredita na capacidade das pessoas de escolherem seus caminhos e atitudes que as levem na direção do que querem ser e fazer.]
(Este artigo foi adaptado do originalmente publicado por Renata Cintra no site Somos Mães de Primeira Viagem – somosmaes.org.br)
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